Por Patrícia Lima
Foto Marcos Pereira
Parecia o fim do show de uma banda de sucesso. Quando o arquiteto Isay Weinfeld desceu do palco do Salão de Atos da UFRGS depois de uma hora e meia de bate-papo com o público, uma fila de admiradores se formou em busca de uma selfie com o ídolo. Eram jovens estudantes de arquitetura e profissionais que admiram o trabalho e a trajetória de um sujeito de fala mansa e declarações polêmicas. Ele foi a principal atração da manhã de quinta-feira (10 de outubro) na programação do 21º Congresso Brasileiro de Arquitetos. Para que pudesse atender a imprensa, que também o aguardava com ansiedade, Weinfeld precisou reunir o grupo para uma foto coletiva no palco.
Ganhador de premiações importantes como o World Architecture Festival e o troféu Ouro no Prêmio IDEA de design, Weinfeld garante que não se importa com nada disso. Reconhecimento, prêmios e badalação são irrelevantes, segundo ele, para o trabalho do arquiteto. Avesso a clichês como “o conceito do projeto”, ele prega a importância dos anseios do cliente para o sucesso de uma edificação. Inspirado pela arte, especialmente pelo cinema, vira as costas para tendências, movimentos, escolas e estilos pré-definidos de arquitetura. Quer trabalhar com intuição, simplicidade e emoção, equalizando as necessidades do cliente e os recursos disponíveis em cada desafio. Repetir fórmulas, jamais.
– Acho maçante, repetir fórmulas não me interessa – dispara.
Atualmente, Weinfeld dedica-se muito mais a projetos no exterior do que no Brasil, um momento novo e, segundo ele próprio, estimulante em sua carreira. Dois são especialmente desafiadores. Em Viena, trabalha há anos na execução de uma pista de patinação no coração histórico da cidade, o que tem envolvido um exaustivo diálogo com a sociedade. O outro é um prédio de apartamentos em Nova York, em pleno High Line Park, que já está praticamente pronto. Isso não o impede, no entanto, de atuar em novos projetos no Brasil, sempre com o olhar aberto para o que a circunstância lhe oferece.
Durante o bate-papo, foi aplaudido muitas vezes, em outras gerou rumores mais ou menos ruidosos. Tudo em função das declarações assertivas e, muitas vezes, polêmicas, que costuma disparar. A seguir, acompanhe alguns trechos da fala de Isay Weinfeld durante a programação do 21º CBA.
Inspiração e processo criativo
“Não tenho essa coisa de processo criativo. Eu simplesmente crio. Ser arquiteto é apenas uma das coisas que me interessam, e está longe de ser a mais importante. O que me encanta verdadeiramente é a arte, o cinema, as artes plásticas, o teatro, a dança. Acho chato encontrar colegas arquitetos e ficar todo o tempo falando sobre arquitetura. Tenho outros interesses”.
Referências
“É claro que o trabalho de outros arquitetos me influenciou e aprendo com muitos profissionais. Mas quem realmente mudou minha vida foi Mira Schendel, Ingmar Bergman, Stanley Kubrick, Lars Von Trier, Andy Warhol. São eles que de fato me influenciam”.
Estilo
“Gosto de uma arquitetura simples, intuitiva, emocional, que não se encaixa em escolas, modismos, estilos. Gosto de arquitetura que fale baixo. Tudo o que é ‘cheguei’, eu abomino. Quando a obra é mais importante do que o que tem dentro, não é comigo”
Arrogância profissional
“A arquitetura não vai mudar o mundo, isso é uma arrogância. Não vamos mudar a sociedade. Não vamos mudar nada. Não levo meu trabalho a sério, não faço questão que minhas obras sejam preservadas, pode derrubar, não tem importância. Me incomoda a arrogância dos arquitetos que acreditam que o seu trabalho vai fazer tanta diferença. Prêmios, reconhecimento, isso não vale nada. Também me incomodam os arquitetos todos sérios, que acham que interiores, decoração e paisagismo são coisas menores. É arquitetura igual. Quando o trabalho de todos ocorre em uníssono, o resultado é o melhor”.
Relação com o cliente
“Fico irritado com aqueles arquitetos que dizem que seu projeto era lindo, mas veio cliente e acabou com a obra dele. Dizer isso é o fim. Não podemos esquecer que é o cliente que vai ficar lá dentro. Fazer obra prima, ganhar prêmio, isso tudo é consequência. O projeto tem que ser bom para quem vai usufruir dele. No meu caso, fico sempre feliz com a interferência do cliente. Ele sempre melhora o meu projeto”.
Futuro das cidades
“A missão dos arquitetos é pensar as cidades mais misturadas, onde as pessoas circulem juntas. Onde circula muita gente, há mais segurança. Sou um fanático contra o automóvel, acho que o futuro das cidades tem que buscar a vida a pé ou no transporte público. E os arquitetos precisam participar desse processo”.
Minha Casa Minha Vida
“De uma forma sutil, ao fazer o projeto para o Minha Casa minha Vida, mostrei que não é o material ou a técnica mais cara que deixa o projeto melhor. Quando a construtora me chamou, não impus condições. Pelo contrário, entendi quais eram as especificações e propus fazer uma coisa bacana com o que tinha disponível. Não podemos é querer fazer algo mais importante, mais pretensioso do que é. E o mais legal nisso tudo foi provar que é possível fazer uma planta bem resolvida, com uma proporção correta, com os espaços bem aproveitados, sem nenhum acréscimo de gastos. Você se sente bem dentro do apartamento e isso é bom demais. Não precisamos de um piso caro ou de uma pintura mirabolante. É possível fazer bom projeto de arquitetura em qualquer condição”.