Por Clarissa Pont
Foto Marcos Pereira
O encontro promovido pelo 21º Congresso Brasileiro de Arquitetos teve mediação de Fabiano Melo, atual representante do IAB na Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC) e analisou a importância da proteção ao patrimônio em concordância com a cultura, a história e as dinâmicas das populações a fim de reforçar que uma identidade coletiva abrange mais do que a arquitetura.
Araújo, diretor geral da Fundação Pedro Calmon e ex-presidente da Fundação Palmares, destacou o folclore, as tradições, a língua, a dança e as festas como partes constituintes de um patrimônio a ser preservado. Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia, foi durante dez anos diretor e conselheiro do Grupo Cultural Olodum.
Segundo Azevedo, o debate é pertinente justamente por discutir os rumos do Patrimônio Cultural do Brasil em um contexto de recente remodelação das poli´ticas patrimoniais federais, marcado pela extinção do Ministério da Cultura. "Existem hoje no Brasil 1.200 elementos e 68 conjuntos históricos urbanos tombados, além de 14 bens considerados Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Nesses conjuntos históricos, que algumas vezes significam cidades inteiras tombadas, identifico quatro grandes dificuldades. A falta de diálogo com as comunidades que habitam esses locais, a falta de uma legislação específica, a falta de uma articulação entre os órgãos de preservação federal e estadual com os municípios e, por fim, a falta de planejamento urbano - comum a muitas cidades brasileiras".
Arquiteto, doutor em Conservação de Monumentos e Sítios pela Universidade de Roma, La Sapienza e membro da Academia de Letras da Bahia, Azevedo destacou uma visão crítica defendendo que a preservação do patrimônio não deve ser encarada como uma questão meramente estética: “É preciso trabalhar para além do conceito de Paisagem Natural, na direção de um valor de paisagem que os geógrafos acrescentam, que implica trabalhar este conceito abarcando outras coisas”. Paisagem Cultural é uma categoria de bem cultural estabelecida pela UNESCO desde 1992 e define a interação entre o ambiente natural e as atividades humanas, onde se criam tradições, folclore, arte e outras expressões da cultura, resultando em uma paisagem natural modificada.
“Arquitetura é luz, é onde existe a vida”.
Araújo defendeu que o tema escolhido para o 21º CBA não poderia ser mais pertinente: “Espaço e democracia, este é um tema extremamente importante para o momento que estamos vivendo – sem relação democrática com o espaço também não há proteção de patrimônio”.
“Por fim, dedico minha fala à comunidade negra. Eu corri o mundo, em particular o mundo europeu, defendendo o legado civilizatório produzido pelos negros no Brasil e, especialmente, na Bahia. Porque patrimônio também está conectado com a ideia de memória cultural, que é não dizermos que somos filhos de escravos. Somos filhos de seres humanos, de homens e mulheres que foram escravizados. A tão falada memória curta do brasileiro é uma construção, ela não é natural. Foi construída de forma meticulosa durante séculos para esconder o que o Brasil viveu com a escravidão”, encerrou.