Por Clarissa Pont

Foto Sergio Torres

Amigos, admiradores, parceiros de trabalho e a família estiveram presentes na Sessão Temática - Briane Bicca: vida e obra, que contou com depoimentos de Jurema Machado, Luiz Philippe Torelly, Luis Custódio, Oritz Campos, Ana Meira e Silvia Braga. Todos sublinharam características que marcaram a trajetória de Briane, como seu compromisso com a defesa do patrimônio e a generosidade com que abarcava inúmeras amizades. Na Praça da Alfândega, lugar escolhido para sediar a presente edição do Congresso Brasileiro de Arquitetos e parte importante da história de Briane na cidade de Porto Alegre, as homenagens convergiram em um ponto: Briane está na cidade, é só manter o olhar atento às marcas deixadas por ela.

A arquiteta e urbanista Briane Bicca sempre trabalhou pela preservação da história e memória do patrimônio arquitetônico, urbanístico e paisagístico nacional. Nasceu em Porto Alegre (RS) em 1946 e manteve sempre uma atuação profissional marcante no fortalecimento das políticas para a preservação do patrimônio cultural no Brasil.

A morte precoce de Briane, em junho de 2018, provocou manifestações de arquitetos e urbanistas, entidades de classe, políticos e órgãos governamentais sobre a importância de seu legado, não apenas para o patrimônio, mas também para os profissionais que puderam conviver e aprender com seu espírito fraterno em defesa do bem comum. Ela deixou o marido Paulo Bica, com quem era casada há quase 50 anos, os filhos Sofia e Diogo e o neto Vicente.

“Toda vez que eu vinha a Porto Alegre, a Briane me trazia até a Praça da Alfândega. Eu lembro quando foram descobertos os degraus, foi um momento de muita alegria pra ela, assim como acompanhar as obras do Monumenta. Eu cheguei para o Congresso e vi como a Praça é utilizada por uma diversidade muito grande de pessoas. É uma Praça de muita vivência social, não poderia haver lugar melhor para esta homenagem”, resumiu Torelly.

Briane se formou em arquitetura na Universidade de Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1969. Em 1979, concluiu doutorado em planejamento urbano na Universidade de Grenoble, na França. Ela se especializou também em conservação arquitetônica no Centro Internacional de Estudos para a Conservação e Restauro de Bens Culturais, em Roma, na Itália.

Trabalhou como técnica de planejamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) entre 1979 e 1992, quando coordenou o grupo de trabalho para que Brasília se tornasse Patrimônio Cultural da Humanidade. Também na Capital Federal, foi responsável pela implantação e coordenação, entre 1992 e 2001, do Setor de Cultura da Unesco no Brasil. Em Porto Alegre, coordenou o Programa Monumenta, do Ministério da Cultura, e, mais recentemente, o PAC Cidades Históricas, do Ministério do Planejamento.

Para Jurema Machado, palavras como firmeza, integridade, determinação, amizade e generosidade explicam quem foi Briane, principalmente se pensadas de uma forma ética, transformadora e libertária: “É nesse momento de um Brasil tão brutal que a imagem da Briane, justamente por ser ainda mais rara, surpreende. Com ela, podemos buscar uma espécie de guia de viagem para recuperar o Brasil que está nos escapando. Com a generosidade da Briane, com seu respeito à diversidade, seu amor à arte e ao patrimônio”.

A homenagem de Ana Meira sugeriu um percurso pelo Centro Histórico de Porto Alegre, pelas edificações particulares restauradas a partir do esforço do Monumenta, capitaneado por Briane, pela identificação de histórias em cada obra de patrimônio, pela alegria de caminhar e encontrar rastros de uma amiga na cidade. “Quando eu saio da minha casa e desço a Vasco Alves, eu lembro da Briane. Quando eu acompanho o Museu de Percurso do Negro, eu lembro da Briane. Em muitos lugares desta cidade tem a mão delicada e cuidadosa da Briane”.