Texto e foto por Bruna Suptitz
A experiência do planejamento urbano como fator gerador de segurança pública foi abordado pelo arquiteto urbanista Jorge Mário Jáuregui em painel na tarde desta sexta-feira, 11, no 21º Congresso Brasileiro de Arquitetos.
A sala do Multipalco ficou lotada para ouvir o palestrante argentino que tem seu escritório no Rio de Janeiro, onde desenvolveu seus principais projetos de urbanização de favelas, como no Complexo do Alemão e no Complexo de Manguinhos.
Jáuregui sustenta que os projetos devem partir de um esquema de leitura da estrutura do lugar. Isso se dá na rua, a partir da observação. Esse é inclusive o perfil que utiliza para reconhecer os espaços.
"Quando cheguei aqui, ontem, fiz uma pergunta para os cidadãos na rua: 'como é o transporte público?'", conta, sobre sua passagem por esses dias em Porto Alegre. Como resposta, ouviu que é ruim, pois os veículos são antigos, em número insuficientes, não cumprem horário e não têm ar condicionado. "Esse já é um diagnóstico do transporte público na cidade".
E seguiu com seus interlocutores nas ruas: perguntou sobre a segurança. "As pessoas me falaram que há muito problema de roubos e que no centro, por exemplo, não se pode caminhar nas ruas depois das nove (horas da noite), porque não tem ninguém, está vazio".
Algumas das respostas a Jáuregui diziam que, embora se pudesse sim caminhar à noite nas ruas da cidade, a percepção da segurança é negativa. "Os responsáveis do poder público pela segurança e pela condução das políticas públicas não souberam construir a confiança. Essa é a primeira responsabilidade de um político".
O desafio de tornar as cidades mais seguras deve ser pensado estrategicamente por agentes de diferentes saberes, sustenta. Como exemplo do insucesso pela falta da articulação interdisciplinar no tema da segurança pública, cita a experiência das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) nas favelas do Rio de Janeiro, ação concomitante ao trabalho de reurbanização desenvolvido com a participação de Jáuregui.
"Quando fizemos os projetos, nas reuniões intersecretarias, nunca estava o representante da segurança pública". Ele conta que, anos depois, ao voltar a uma das comunidades, viu um escritório da UPP, "uma torre de vidro espelhado, rejeitando o que estava ao redor".
A essa falta de articulação Jáuregui credita o destino das UPPs, "que durante um certo tempo funcionaram, mas declinaram porque não estavam articuladas a uma política pública de urbanização".